Histórias
Élida Mariana de Abreu- militante negra - filha de Iemanjá
Em 07 de julho de 1978, as escadarias do Teatro Municipal de São Paulo foram palco do ato público que convocava homens e mulheres negros a reagirem contra a violência racial a qual eram submetidos. Naquele momento, a sociedade brasileira era apresentada ao Movimento Negro Unificado contra a discriminação Racial (MNU). O movimento nasceu quando representantes de várias entidades se reuniram em resposta à discriminação racial sofrida por quatro garotos do time infantil de voleibol do Clube de Regatas Tietê, e a prisão, tortura e morte de Robson Silveira da Luz, acusado de roubar frutas numa feira.
De lá pra cá, nesses 39 anos de luta e resistência, o MNU vem se abrangendo no cenário mundial. Em Patos de Minas, o movimento chegou há cerca de 5 anos, na bagagem do Sr. José Antônio Ventura, filho do município, que retornou de um longo período morando na capital. Hoje, Seu Ventura, como é conhecido, é militante, coordenador estadual, membro do GT (Grupo de Trabalho) nacional do MNU, presidente da CONFAQ (Confederação Nacional das Famílias Quilombolas) e da CONAQ (Confederação Nacional de Quilombos).
O Movimento Negro em Patos de Minas, apesar de recém-criado, tem tido avanços e conquistas. Hoje, o município já conta com uma diretoria de Igualdade Racial e com o COMPIR (Coordenação Municipal de Promoção da Igualdade Racial), ambos reivindicados pelo movimento. Também é conquista da luta a certificação de duas (2) comunidades tradicionais (Quilombos).
Uma das maiores preocupações do Movimento Negro é o resgate cultural e a integração do jovem negro na sociedade atual, por esses motivos, lutamos sem cessar para o cumprimento do Estatuto de Igualdade Racial (lei n°12.228 de 20 de julho de 2010), na busca de políticas públicas para a melhoria de vida da população negra. Foram criados e registrados grupos culturais, como o grupo de Moçambique "Guerreiros do Quilombo de Ambrósio", o grupo de dança e teatro "Anastácia de Jesus", além de fóruns e seminários realizados sistematicamente com o intuito de conscientizar e informar a população sobre seus direitos.
Também é uma preocupação o cuidado com a preservação material, imaterial e cultural do povo negro, já que a maior parte da nossa história é contada através da oralidade. Por isso o carinho e a atenção pelos mais velhos, chamados Griôs, e o respeito à ancestralidade. Para nós, esses laços do passado nos fortalecem para o futuro.
O Movimento Negro também luta pela preservação das matas e templos usados por praticantes das religiões de matriz Africana, para esses praticantes os elementos naturais são essenciais em seus cultos. O MNU luta por igualdade de direitos e oportunidades, mas, acima de tudo, lutamos por Respeito, pois acreditamos que só através dele, independente de cor, raça ou religião, alcançaremos o bem comum.
MNU Patos.
Tradições
Geenes Alves
A palavra tradição origina-se do termo latino traditio, que significa entregar ou passar adiante.
Não há nobreza maior no ato da entrega, de passar adiante, algo que é bom e especial, feito com amor e carinho.
Eis a missão daqueles bravos destemidos que, como artistas que são, carregam despretensiosamente consigo a história dos seus e daqueles que vieram antes de si. Assim podemos definir os foliões e congadeiros.
Os primeiros, que aportaram no Brasil em tempos posteriores ao “descobrimento”, espalharam-se pelo país em formação acompanhando naturalmente os ciclos da economia nacional, enraizando-se nos lugares da cana-de-açúcar, do ouro, do café e de muito daquilo que veio depois.
Os segundos, de forma semelhante, tomaram esta terra como sua, seja por necessidade, obrigação ou imposição. Adaptaram-se às mais adversas situações para sobreviver o corpo e o coração, inclusive aculturando-se a histórias de outros, de cores diferentes.
Misturando-se a nativos da terra não mais primitiva... cataguases, caiapós, abaetés... entre tantas outras tribos, uns e outros vieram parar no sertão das gerais. Arranchando-se aqui e ali, próximo a córregos, rios e lagoas, chegaram onde viria a ser Patos de Minas.
Seus ritos, feitos de crenças, costumes e valores tão distintos, identificam o brasileiro, o mineiro e o patense como um povo único, ao mesmo tempo diverso, movido pelo fio condutor da tradição, que se traduz em religiosidade e cultura, transpondo e moldando gerações.
Aqui estamos. Essa é a nossa história.
Saudamo-nos, respeitosamente.